O espetáculo “Violento” se desenha pela trajetória de um jovem negro na sociedade, diretamente atingido por abordagens policiais, encarceramento em massa, o genocídio em curso e a hipersexualização do corpo negro acrescida de elementos urbanos e ritos de passagens contemporâneos. Violento instala no território dramático uma experiência. Uma imersão no pensamento do que é a negritude em diálogo com o que pode ser/estar contemporâneo. O processo histórico colonial brasileiro traduziu a experiência da negritude a uma expressão de violência. O espetáculo se apropria desta violência como artifício estético e criativo para rasurar, perfurar e (re)configurá-la enquanto signo. Uma prática que busca elaborar formas de subjetividades pretas esteticamente. Cenicamente é através de uma série ritmada de atos, que trabalham sob uma superfície de signos, que a obra busca reenviar a ancestralidade negra para um certo repertório contemporâneo de imagens da violência. O espetáculo envolve dois vetores inseparáveis: o trabalho sofisticado sobre os sentidos e o aspecto brusco, irrepetível, da produção de acontecimento e de convívio. Ou seja, é uma experiência que busca produzir novas possibilidades de se pensar a estética negra no âmbito cênico/artístico/cultural. Com um trabalho teatral desenvolvido nas coxias, como iluminador – o trabalho técnico ou braçal geralmente é delegado aos artistas negros e negras – Pedro, hoje, Preto Amparo, iniciou a pesquisa do espetáculo em uma cena curta apresentada na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) durante uma ocupação artística. Na ocasião, apesar do caráter contestador deste movimento, a presença de um corpo negro desencadeou atitudes racistas, geralmente não identificadas ou assumidas pela formação de nossa sociedade. A partir de mais esse disparo, a ideia de construir uma obra cênica que dialogasse com a ancestralidade e com a vida do jovem negro urbano foi tomando forma. O ator e diretor Alexandre de Sena assumiu a direção do espetáculo que pretende desnudar, de forma poética, o racismo estrutural existente em nosso cotidiano brasileiro. O primeiro resultado desse processo foi apresentado no Festival de Cenas Curtas do Galpão Cine Horto (2016). “Todo processo criativo do espetáculo foi permeado por um local de enunciação e de luta, sem negligenciar a possibilidade de aprofundamento em desenhos performáticos e cênicos. Nossa formação teatral é, seguramente, recurso para criação de poéticas de resistência”, reforça Preto.
Local:
Teatro Rui Limeira Rosal (SESC)
Caruaru (PE)
Hora: 22h
Duração: 60′
ATUAÇÃO: Preto Amparo // DIREÇÃO: Alexandre de Sena // DRAMATURGIA: Alexandre de Sena e Preto Amparo // PRODUÇÃO: Grazi Medrado // REGISTRO EM FOTO E VÍDEO: Pablo Bernardo // ILUMINAÇÃO: Preto Amparo // PREPARAÇÃO CORPORAL: Wallison Culu | Cia Fusion De Danças Urbanas // ASSESSORIA DE TRILHA SONORA: Barulhista